“Em 2002, durante a campanha eleitoral, o então candidato Lula elaborou um documento (A “Carta ao Povo Brasileiro”) no qual se comprometia a não alterar a política macroeconômica do país. Ao impedir um reajuste real para o salário mínimo, o governo Dilma agiu da mesma forma”, diz o presidente da CTB.
De fato, apesar de todos os avanços conquistados ao longo dos últimos oito anos, o governo Lula manteve o compromisso da “Carta” e não alterou o tripé na qual a macroeconomia brasileira vem se mantendo desde o segundo mandato de FHC, composto por câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário.
Para Wagner Gomes, o recado atual transmitido pelo novo governo é o do cumprimento à risca do ajuste fiscal “exigido” pelo mercado financeiro. “Mais uma vez, ficou comprovado que a política econômica do país é um grave obstáculo à valorização do trabalho. As centrais se mantiveram até o fim em sua posição por entender que é hora de o país iniciar um novo rumo, em direção a um projeto de desenvolvimento duradouro, que privilegie a produção, a geração de empregos e não a especulação”, enfatizou.
O dirigente acredita que a vitória de Dilma deveria representar um aprofundamento dos avanços conquistados pelo governo anterior. “Mas para isso é preciso que a equipe econômica comece a deixar de lado esse tripé. Os bancos já ganharam demais no Brasil. Para avançarmos, é preciso que os trabalhadores obtenham avanços reais daqui por diante. Infelizmente o governo deu um sinal explícito de que a minoria de sempre continuará se privilegiando”, afirmou.
De acordo com dados do governo, 47,7 milhões de pessoas recebem o salário mínimo, entre trabalhadores formais e informais (29,1 milhões) e beneficiários da Previdência (18,6 milhões). No total, apenas 29% da Câmara Federal votaram contra os R$ 545,00.
O projeto aprovado também definiu qual será a política de reajustes no governo de Dilma Rousseff. Até 2015, o valor não será debatido – o aumento será automático pela fórmula do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos anteriores, somado com a inflação pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do último ano. “Ao aprovar a valorização do mínimo até 2015, o governo mostra que estávamos com a razão. Mas queremos ainda que essa política se torne lei e que seja estendida até 2023”, destaca o presidente da CTB.
Apesar da decisão intransigente do governo, as centrais não pretendem se desmobilizar. “A questão do mínimo era de grande importância, mas continuaremos lutando contra a atual política econômica do país. É preciso que os juros caiam, que o superávit primário seja extinto e que o trabalhador volte a ser valorizado. Essas serão políticas permanentes não só da classe trabalhadora, mas dos movimentos sociais como um todo”, finaliza Wagner Gomes.
Fernando Damasceno – Portal CTB